# Resenha | Don Brothers - Suor, Stress e Cafeína

By | 25 julho
Às vezes, as ideias loucas são as mais surpreendentes.
Os autores de DON Brothers – Suor, estress e cafeína, mini coletânea de mangá nacional lançada na CCXP do ano passado (2017) sabem bem do que estou falando.

A ideia da HQ surgiu quando Kaji Pato (QUACK – Editora Draco) entrou em contato com Max Andrade (Tools Challenge – Editora Draco) e a dupla: Wagner Elias e Rafa Santos (Divisão 5 – Editora Draco) com a “brilhante” ideia de em menos de um mês elaborar, escrever e desenhar uma HQ para lançar vender na CCXP que estava prestes a acontecer. O projeto seria formado de três oneshots de 13 páginas cada. A ideia foi aceita, e logo cada um partiu para produzir seu quadrinho.

Nem preciso dizer que uma ideia dessas, de fazer algo em tão pouco tempo, por pessoas que não tem tempo nem para cagar tinha tudo para dar errado. Mas, como eu disse no começo desse texto, “Às vezes as ideias loucas são as mais surpreendentes”.

Mas, vamos por partes para dar uma olhada mais detalha nas três historias que compões a coletânea:

Escarra Brasa – Uma disputa de amor 

Roteiro de Rafa Santos e artes de Wagner Elias
Uma impressionante e divertida visão pós apocalítica onde o clima desértico do sertão tomou o mundo todo. Essa é a HQ em estilo mangá que venceu BMA 2 (Brasil Mangá Awards) e que foi continuada nessa coletânea.

A estória narra uma das afamadas aventuras de Escarra Brasa, o cangaceiro que já foi o mais temido em todo o sertão, virando lenda no nordeste, e que desapareceu um dia, misteriosamente. O motivo para isso é uma sacada dos autores, onde depois de ter tomado um chá miraculoso, o bandoleiro simplesmente é impedido de cometer qualquer maldade por um estranho código de bondade e justiça que lhe foi imposto como maldição através do chá por uma misteriosa curandeira. Nessa estória Escarra Brasa se depara com um pedido de ajuda direto das “Terras envenenadas”. A contragosto ele parte nessa direção, mas o que aguarda o cangaceiro nessa jornada é perigo, mistério e uma estranha disputa de amor.

SOBRE A ARTE: 
A arte de Wagner Elias é algo que dá gosto de ver. Os traços são fortes nessa HQ, propositalmente bebendo do estilo rustico das xilogravuras do nordeste. Apesar de estilo mangá, o traço de Wagner tem um quê, digamos, um pouco “cartunesco”, o que confere a sua arte um toque bem pessoal e expressivo. O uso de enquadramentos e ângulos também é muito bom resultando em uma narrativa fluida e envolvente, empurrando na medida certa o roteiro na tarefa de contar muito, em poucas páginas. Não há oscilações na qualidade da arte, algo que me agrada sempre que vejo um trabalho ilustrado por ele. Recentemente, Wagner foi um dos vencedores no Silent Mangá Audition (SMAC), concurso internacional de mangás que acontece no Japão com a historia “The First Day In the work” com roteiro deste que vos fala.

SOBRE O ROTEIRO:
Não é segredo para ninguém que sou fã do trabalho do Rafa Santos. Sou mesmo, isso desde que li, pela primeira vez a sua HQ Divisão 5, também em parceria com Wagner Elias, na primeira edição da “Dracomics Shonen” pela Editora Draco. Assim como Elias, Rafa também se especializou em contar muito em poucas páginas. O uso medido de textos e recordatórios sempre ajuda a contar mais da trama, e deixa o leitor com a impressão de ter lido um numero maior de páginas do que realmente leu. O enredo introduz bem o leitor ao universo e ao plot central da HQ logo nas primeiras páginas, levando, porém, ele a achar que tem toda a historia decifrada, mas entregando um engenhoso ponto de virada final.

Outro ponto que merece menção é o uso da narração, feita por dois violeiros, e com vícios linguísticos da nossa terra (digo nossa, pois assim como a dupla de mangakas, esse que vos fala também é do nordeste). Um enredo engenhoso, bem amarrado e com fôlego para futuros desdobramentos, é como descrevo essa HQ.

Matar Neymar Jr.

Roteiro e arte por Max Andrade
Um playboy está em Paris dentro da casa de Neymar Jr. – o astro da seleção brasileira – e jura que precisa matá-lo. O que o teria levado a essa situação estapafúrdia? Essa é a premissa básica da HQ Matar Neymar Jr. de Max Andrade.

SOBRE A ARTE
Acho que em outras resenhas que já fiz há muitos anos sobre trabalhos do Max, sempre me desculpo antes de dizer como algumas coisas na arte dele ainda me incomodam levemente. Refiro-me, mais precisamente, a cenários e alguns pontos de anatomia, mas falo como leitor (chato pra cacete), e não como especialista em desenho (que não sou). Contudo, esses pequenos ruídos não o impedem de entregar uma historia divertida, e de fácil compreensão por parte do leitor. Apesar de oscilar um pouco, a arte de Max continua mostrando a evolução que explica as conquistas do autor no meio nos últimos anos. Menção especial para a arte das ultimas páginas que dão um salto incrível de qualidade.

SOBRE O ROTEIRO 
Logo de cara, tenho de dizer que a ideia central que move a trama, o tal “jogo secreto entre milionários” é genial. Muito bem sacado, como diria Silvio santos. Contudo, só acho que essa ideia seria melhor aproveitada se o tom da historia fosse mais para drama ou suspense, do que comédia (mesmo sabendo que em apenas 13 páginas seria MUITO difícil de fazê-lo). Mesmo assim, da forma que foi feita, continua sendo uma leitura divertida.

O autor começa a historia de forma não linear, jogando o leitor no meio do clímax, depois retorna e vem explicando tudo mais devagar, alternativa muito usada em cinema e quadrinhos para gerar interesse imediato.  Um dos pontos fortes do roteiro é a motivação do personagem, que é matar Neymar Jr., e eu posso dizer isso pois o titulo já entrega. O motivo, os meios e como o protagonista chega a esse momento culminante na trama são bem trabalhados e flui bem (exceto por um certo mestre ninja que achei forçado). Mas, o melhor é o desfecho; não pode-se dizer surpreendente, mas satisfatório e bem executado. Mesmo não gostando da temática esportiva, gostei de como a historia foi contada, me divertiu muito lê-la.

Dorival Rainner

roteiro e arte por Kaji Pato.
Esse é o nome do ultimo homem da terra. Uma historia pós-apocalíptica à la Mad Max com uma premissa simples e carregada de “no sense”. Nessa comédia Kaji Pato mostra como seria um mundo onde um vírus mortal matou quase todos os homens e transformou quase todas as mulheres do planeta em mutantes.

SOBRE A ARTE
Não há muito que falar da arte do Kaji que vocês já não saibam. Quem acompanha QUACK, seu mangá pela Editora Draco, já está acostumado ao traço maleável e característico dele. Esse mangá é uma montagem bem executada do que seria uma comédia sem noção em todos os seus detalhes, desde o cenário improvável onde se desenrolam as situações mais estapafúrdias até os diálogos cheio de piadinhas infames. A narrativa visual também está bem construída, misturando na medida certa os tons de aventura e comédia. Uma arte que consegue ser imersiva, e dinâmica ao mesmo tempo.

SOBRE O ROTEIRO
Aqui o autor mostra porque manja da zoeira. A HQ leva o leitor por um mundo pós-apocalíptico propositalmente nos moldes de Mad Max (como já disse), mas que coloca em foco as discussões do casal protagonista, que apesar do mundo e dos perigos que os rodeiam, sempre são focadas em discutir a relação. Apesar de feito apenas para aproveitar a zoeira do momento, esse trabalho me deixou certo gosto de quero mais, confesso. Gostei de como os elementos foram apresentados e a premissa pode sim ser trabalhada em boas continuações. Dei boas risadas do inicio ao fim dessa curta aventura, mas o que realmente me chamou a atenção foi o final estapafúrdio que li e pensei “não, cara, ele não fez isso!”.  Kaji pato mostra nessa HQ porque é sim, um dos melhores escritores e desenhistas de mangá dessa “geração BR”.

DADOS DA OBRA
Publicado em Dezembro/2017
Coletânea feita em parceria com Kaji Pato, Rafa Santos e Wagner Elias.
Contém a HQ "MATAR NEYMAR JR."
Capa Colorida - Lombada Canoa
Miolo P&B papel Offset 90g
40 páginas

Disponível para compra AQUI

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