Entre páginas #1| O papel da mulher na literatura contemporânea

By | 15 maio


Desde que me formei em Literatura, no início  do tão almejado ano 2000, véspera de virada de século e de milênio, que já vinha me questionando sobre o real papel da mulher nos textos literários. Uma protagonista que me chamou profundamente a atenção foi Capitu, muito bem escrita por Machado de Assis. Personagem que revelava olhares oblíquos e dissimulados, na visão de Bentinho, um homem machista e mega ciumento.

Sendo assim, Capitu tinha mesmo olhar oblíquo e dissimulado? Essa era sua verdade? Mulheres devem deixar de serem apenas uma visão masculina distorcida da realidade  para, de fato, protagonizarem suas cenas. Partindo dessa premissa, não interessa uma personagem fraca que se finja de forte, mas sim uma que assuma suas fraquezas e trabalhe para superá-las ao longo de sua história. Conquistará muito mais o coração do leitor se ela for verossímil, afinal, todos temos pontos fortes e fracos.

Também não cabe mais, em tempos pós-modernos, uma competição com o sexo oposto. Como bem disse Mary Shelley (1797 - 1851), autora de Frankenstein, "Desejo que as mulheres tenham mais poder sobre si mesmas." Por menos Helenas (de Troia) que são chamadas de protagonistas sem o serem e mais Hazel Graces, que mesmo tendo sido criada por um homem (John Green) defende com unhas e dentes toda a sua intensidade feminina. Por menos Macabéas e mais Hermiones.

Então, que nós autoras sejamos mais despudoradas na criação de nossas mulheres. Que elas sejam mais ousadas, interessantes e independentes. Que as vozes femininas nos textos atuais sejam donas de si sem serem tachadas com adjetivos pejorativos e clichês, como por exemplo, a personagem de Giovanna Antonelli, uma prostituta no horário nobre da teledramaturgia brasileira, que recebeu o nome de Capitu em uma suposta homenagem à criação machadiana. A ordem é desconstruir discursos e deixar nossas protagonistas mostrarem a que vieram.

---SOBRE A ALCIMARE DALBONE---

Alcimare Dalbone nasceu em 18 de setembro de 1980, em Volta Redonda, RJ, onde ainda reside. Cursou Letras pela UGB, graduando-se em 2001. Atualmente leciona Português e Inglês para as turmas de ensino médio na rede estadual do Rio de Janeiro. Sua poesia Pontos e Partes foi publicada na antologia Trilha de Lótus pela Editora Andross, e foi indicada ao Prêmio Strix de melhor poesia. Pela Young Editorial, participou de Horror a Vapor, uma antologia de Halloween, com o conto Plataforma 90, e teve seu primeiro romance, A Pedra Lunar, relançado em setembro de 2016, na Bienal do Livro de São Paulo.

Contato: maredalbone@hotmail.com
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